segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Engenharia sem Fronteiras...

Angola - Exigência e Oportunidade...


Nos últimos anos, conceitos como internacionalização, franchising, joint ventures e exportação por investimento directo fazem parte do dia-a-dia das nossas empresas e já nos acostumámos com a sua presença. Aprendemos a aceitar a internacionalização como algo natural que qualquer empresa, grande ou pequena, procura desenvolver, em alguma fase da sua evolução. A realidade porém encerra mais dificuldades do que inicialmente poderíamos prever.

Se tomarmos como exemplo o Mercado Angolano e tendo como base a minha experiência pessoal na área de projecto de engenharia e eficiência energética, chegaremos à conclusão que estamos perante quatro premissas essenciais para a abordagem inicial e que são em simultaneamente Exigências e Oportunidades a explorar:

1) As especificidades deste Mercado pressupõem a existência de uma estratégia bem consolidada, que vá ao encontro das necessidades do tecido empresarial Angolano. Concretizando, por diversas vezes se poderá deparar com métodos de negociação e de orçamentação diametralmente opostos ao que está habituado – a estratégia portuguesa do desconto é substituída pelo PVP e qualquer enviesamento desta política poderá colidir com a cultura de negociação local e inviabilizar um negócio, que à partida parecia seguro; Outra estratégia comum em Portugal é a sub-orçamentação. Esta poderá colidir com uma política rígida aonde a responsabilidade é da entidade adjudicada e onde erros e omissões não são tolerados, gerando prejuízos comerciais e financeiros de alguma gravidade. Várias são as características endémicas deste Mercado, que envolvem temáticas como o planeamento, os timings de execução e decisão, condições de pagamento, comunicação e comercialização, acompanhamento de obra, disponibilidade de equipamento, perfil do cliente alvo, etc. É essencial compreender o (Empresário) Angolano, o que procura, para levar o seu produto até ele e usufruir das potencialidades que este Mercado lhe poderá proporcionar.
2) Outro erro potencial é julgar que poderá vender o seu produto à distância e provavelmente sem nunca sequer conhecer o seu cliente final. Poderão existir situações pontuais onde esta hipótese é aplicável, mas a experiência diz-me que existe a necessidade de presença local, com um projecto adequado às necessidades do mercado angolano, de preferência aliado a um parceiro local; Diversas vezes esta foi a diferença entre o falhanço absoluto e o sucesso motivador. Por vezes contactámos com projectos de engenharia elaborados em Portugal e sem acompanhamento técnico necessário. As consequências foram uma imagem empresarial pobre e um gabinete sem novas oportunidades de negócio. Outras situações mostraram empresas com vontade e capacidade indiscutíveis, que foram contudo, suplantadas pela concorrência, que embora menos preparada, possuía o aliado local necessário.
3) Durante a sua abordagem inicial encontrará outras dificuldades que se prendem com o licenciamento, confuso e pouco transparente e custos de instalação elevados que por norma levarão parte da margem do seu negócio, se não for cuidadoso com estes pontos. Renova-se a necessidade de parcerias locais para fazer face às barreiras de entrada no Mercado. Os seus parceiros Angolanos farão parecer fácil ultrapassar problemas que para o empresário português seriam verdadeiros muros intransponíveis. Por outro lado, as estadias terão que ser controladas e articuladas em rigor com um planeamento livre de falhas. Caso contrário, repetir-se-ão episódios de estadias pouco produtivas, desmotivação dos colaboradores, etc.
4) Por fim, ressalvar a oportunidade causada pela escassez de mão-de-obra local qualificada e que todavia se torna uma limitação importante durante o período de execução. Voltemos à questão do acompanhamento de obra, como coordenar equipas locais pouco qualificadas? Estarão, estas equipas, habilitadas a ler e interpretar os projectos elaborados e cadernos de encargos? Como é comum na minha área, um bom projecto transformar-se-á num pesadelo se a execução de obra for deficiente. Esta é uma preocupação comum nas empresas Portuguesas na área do projecto, sejam elas de arquitectura ou engenharia. Há portanto que aproveitar esta lacuna para fornecer os nossos serviços qualificados mas consciente de que esta limitação far-se-á sentir, mais cedo do que tarde, durante a sua estadia em solo Angolano.  

Mais do que potencial, o Mercado Angolano é já uma realidade para um grande número de empresas Nacionais que comercializam os seus produtos/serviços de uma forma próspera. O uso correcto da informação e o conhecimento aprofundado das realidades locais farão a diferença entre um sucesso rápido e lucrativo e um processo de destruição empresarial lento e penoso. Estou certo que os gestores nacionais são feitos da matéria necessária para vencer este desafio.

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